Eduardo Allgayer Osorio

A Revolução Verde

Por Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro agrônomo, professor titular da UFPel, aposentado
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A expressão Revolução Verde refere-se ao conjunto de inovações tecnológicas empreendidas na agricultura a partir das décadas de 1960 e 1970 com o objetivo de viabilizar o aumento da produtividade nos cultivos pelo uso intensivo de fertilizantes e defensivos aliado à mecanização das operações de cultivo, usando materiais geneticamente melhorados para suportar uma alta produção de grãos sem acamar. Tinha como propósito maior incrementar a produção de alimentos visando erradicar a fome no mundo.

Esse processo ganhou ênfase num projeto desenvolvido no México, no Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (Cimmyt), cujos resultados colhidos promoveram uma verdadeira revolução na produção agrícola, sendo estendido a outros países subdesenvolvidos, como a Índia, o Paquistão, a China, a Etiópia, o Quênia, a Turquia e a Colômbia. O aumento da produtividade dos cultivos, afora incrementar a disponibilidade de alimentos, reduziu o preço destes. Em decorrência, se em algumas regiões dos países pobres ainda havia pessoas que eventualmente passavam fome, o número dos que morriam de fome sofreu drástica redução. Alimentos mais nutritivos passaram a ser consumidos, incluindo mais proteínas nas dietas compostas quase que exclusivamente de carboidratos (na China se consome hoje o dobro da quantidade de carne consumida há 40 anos).

O sucesso desse trabalho levou o pesquisador responsável, o norte-americano Norman Borlaug, a ser agraciado em 1970 com o Prêmio Nobel da Paz, época em que tivemos a honra de receber a sua visita ao programa de melhoramento de trigo por nós coordenado no Centro de Pesquisa Agropecuária de Terras Baixas de Clima Temperado.

Os conceitos preconizados na Revolução Verde mudaram o perfil da agricultura brasileira, possibilitando produzir em larga escala, evoluindo o País da posição de importador de alimentos para a de maior produtor mundial de soja, de café, de açúcar, de suco de laranja, de carne bovina e de carne de frango, tornando-se importante protagonista mundial na produção de algodão, milho, feijão, arroz, cacau, mandioca, celulose, álcool, carne suína e outros.

Se no ano de 1800 a população mundial beirava 900 milhões de habitantes, pela explosão demográfica havida na segunda metade do último século cresceu exponencialmente, havendo hoje no planeta Terra oito bilhões de bocas para alimentar, demandando quantidades crescentes de alimentos a serem produzidos de forma amigável com o meio ambiente, usando processos que otimizem o emprego de insumos, fertilizantes, defensivos e água.

A digitalização dos processos de produção levou ao que chamamos hoje de Agricultura 4.0, passando as operações e as decisões a orientar-se com base em dados de clima e solo, dos insumos, do mercado e outros, com os envolvidos e os dispositivos trabalhando conectados e integrados, usando a internet das coisas, a inteligência artificial, a agricultura de precisão, imagens de satélite, dosadores de sementes, de fertilizantes, de defensivos e da água de irrigação, gerando uma quantidade imensa de dados processados e armazenados na nuvem, oportunizando proceder com base neles as complexas análises e as conclusões orientadoras das ações a empreender. No campo, o progresso não para. A evolução é permanente.​

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